SCI A2840/R Manual do Utilizador Página 3

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Diagn Tratamento. 2012;17(1):9-13.
Décio Gilberto Natrielli Filho | Mailu Enokibara | Natália Szczerbacki | Décio Gilberto Natrielli
11
Esses relatos corroboram a hipótese de que algumas crianças
com temperamento difícil (percebido pelos pais) podem pro-
gredir, em certas circunstâncias, para transtorno de conduta
no nal da infância.
36,37
Essas síndromes da infância, que au-
mentam o risco de progressão para um pior prognóstico nas
fases seguintes do desenvolvimento da personalidade, apresen-
tam maior tendência de ocorrer na presença de fatores de risco,
como ambiente familiar desestruturado, diculdades pré e pe-
rinatais e carga genética. Esses riscos poderiam ser balanceados
por fatores protetores, como orientação social positiva, receber
atenção adequada durante o primeiro ano de vida, boa relação
dos pais com o lho, a presença de cuidadores adicionais além
da mãe, e uma boa estrutura com regras e disciplina no ambien-
te da casa.
36,37
Aspectos psicossociais
O estudo de Burt e cols.
38
observou que um fator socio-
demográco, como o divórcio dos pais, está associado ao au-
mento da delinquência em adolescentes. Propõem, portanto,
o divórcio dos pais como um fator de riscoambiental para
a delinquência. O comportamento suicida também tem sido
posto em pauta em diferentes estudos, demonstrando que os
transtornos de personalidade e suas comorbidades com outras
doenças psiquiátricas são fatores de risco para comportamentos
suicidas e automutilação. Eventos de vida negativos, abuso se-
xual na infância, diculdades no funcionamento social e dinâ-
mica familiar conituosa podem aumentar o risco de suicídio
em indivíduos com transtornos de personalidade borderline e
personalidade antissocial.
39
Os dados recentes sugerem que os
transtornos de personalidade, especialmente antissocial e bor-
derline, estão fortemente relacionados com a perpetração de
atos violentos.
31,40
O abuso de substâncias é outro forte fator
que poderia atuar de forma independente ou aditiva.
25,26
Em um estudo realizado a longo prazo com crianças (idade
média de quatro anos) observaram-se os efeitos da intervenção
preventiva para o desenvolvimento de comportamento antis-
social, evidenciando que a presença de pais severos na educa-
ção e no aprendizado é fator protetor para o comportamento
antissocial.
41,42
A rigidez familiar, associada ao componente cul-
tural, faz com que comunidades orientais apresentem menor
prevalência de TPAS. Na sociedade norte-americana parece ha-
ver um enorme aumento no número de pessoas diagnosticadas
como TPAS, o que também reete o impacto do meio cultural
sobre esse distúrbio.
43
Os padrões de regulação da emoção desenvolvidos duran-
te a primeira infância supostamente continuam ao longo de
vários estágios de desenvolvimento. Assim, os indivíduos que
demonstraram níveis mais elevados de desequilíbrio emocio-
nal na infância e adolescência provavelmente terão diculda-
des no manejo da angústia e de conitos nas relações inter-
pessoais na idade adulta.
44,45
Em grupos familiares em que se
observam comportamentos violentos e antissociais precoce-
mente nas crianças, a abordagem parental é ainda a mais bem
indicada para a prevenção do desenvolvimento de condutas
delinquentes, sendo ainda a melhor solução em saúde públi-
ca e em settings clínicos individualizados. Investir na psico-
educação de pais, ensinando-os (literalmente) a interagirem
com seus lhos, promoverem comportamentos pró-sociais,
além de reduzir efetivamente as agressões e os comportamen-
tos antissociais, utilizando-se de estratégias disciplinares não-
violentas, seria a melhor indicação de tratamento e prevenção
para crianças com condutas antissociais precoces.
46
Kopp e
Beauchaine
47
observaram que a comorbidade entre sintomas
externalizantes e internalizantes em crianças é provavelmen-
te um produto de altas taxas de comorbidade de transtornos
mentais dos pais, neste espectro. De uma perspectiva clínica,
as taxas elevadas de comorbidades entre os pais poderiam ser
um importante impedimento para o devido encaminhamento
das crianças para tratamento.
Comorbidades
As taxas de comorbidade entre alguns transtornos mentais
externalizantes” como transtorno de décit de atenção e hi-
peratividade (TDAH), transtorno desaador e de oposição
(TDO), transtorno de conduta (TC), transtorno de persona-
lidade antissocial (TPAS) e abuso de substâncias são especial-
mente altas.
47-52
De forma similar, transtornos “internalizantes como de-
pressão, distimia e uma variedade de transtornos ansiosos fre-
quentemente coexistem tanto em crianças como em adultos. A
comorbidade entre os espectros externalizantes e internalizantes,
geralmente denominada comorbidade homotípica, não é uma
surpresa, dado o considerável intercâmbio de sintomatologia
entre os transtornos mencionados. Além disso, a maioria dos
transtornos envolvendo estes domínios de sintomas compartilha
uma vulnerabilidade genética comum. relatos de que 80%
da variação sintomatológica observada em TDAH, TDO, TC e
abuso de substâncias foi atribuída a um único traço latente de
impulsividade.
47
Hiperatividade na infância e transtorno de con-
duta mostrou probabilidade igualmente forte de transtorno de
personalidade antissocial (TPAS) e da criminalidade no início da
vida adulta.
50
Portanto, a impulsividade, como um traço nuclear, poderia
emergir de predisposições genéticas, mas manifestar-se como
um ou mais dos variados agrupamentos sintomatológicos, de-
pendendo dos efeitos modeladores do ambiente, habilidades
cognitivas e outras predisposições da personalidade ao longo
do desenvolvimento. Conforme esse referencial, um indivíduo
afetado por uma dessas condições poderia simultaneamente ou
sequencialmente oscilar entre múltiplas vias psicopatológicas.
Isso oferece uma explicação de comorbidade não como uma co-
ocorrência de entidades diagnósticas distintas, mas sim uma
covariação de síndromes relacionadas originadas de uma vulne-
rabilidade genética comum.
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